sábado, 8 de outubro de 2016

Frustração

Tem um conto antigo, acho que é da CLARICE LINSPECTOR (se não for, por favor me corrijam...).
Nele, uma velhinha está organizando sua festa de aniversario.
O conto passa pela organização da festa, a escolha da roupa pela velhinha, a escolha das comidas e bebida.

Li há muito tempo e não lembro detalhes.
Só sei que, no dia da festa, NINGUÉM aparece para a festa.
E a velhinha é encontrada, no dia seguinte, morta, abraçada aos convites que ela havia esquecido de mandar...

Há 15 anos tiro uma semana por ano, para pescar na Amazônia.
Já fui em 4 ou 5 barcos diferentes.
Conheci um monte de rios diferentes.
Já fiquei em uma pousada no meio da selva.

Fiz grandes amigos nesse tempo.
Alguns pescadores não tiveram a sorte de se tornarem meus amigos.

Ao longo desse tempo, fotografei muito, o que deu origem a um “livro” (não publicado... mandei para um site que imprimiu e montou para mim...).

Aprendi a pescar tucunarés e os chamado “peixes de couro”.

Aprendi sobre iscas artificiais, molinetes, carretilhas, varas, garatéias, nós.

Aprendi sobre a necessidade de usar protetor solar no sol amazônico. E óculos. E luvas. E beber muita água.

Passei por tempestades tropicais, daquelas que a gente vê em filmes.

E tenho mil historias para contar, de coisas que aconteceram comigo, que aconteceram com outros, lendas e “historias de pescador”.

Tudo isso ao longo de 15 anos.

Mas, este ano, 2016, não irei pescar.

Nem os meus companheiros de sempre.

O cara contratado, que tinha a obrigação de fornecer o barco e tudo o mais necessário para a pescaria, telefonou, na véspera da ida para Manaus, informado que não haveria pescaria.
Ele havia “quebrado”, falido, e não tinha dinheiro para nos levar.

É obvio que será ele, processado.
Cível e criminalmente.
Vai perceber que deveria ter sido mais cuidadoso com o grupo em que “deu balão”.

Mas a frustração vai ficar.
Certamente, irei ano que vem.
Pretendo, ainda, ir muitos outros anos.
Mas este ano, 2016, não irei pescar na Amazonia.
Porque um “mané”, decidiu que podia “dar o golpe” na gente.

Talvez, mais difícil de engolir que o prejuízo, seja a frustração.

Teríamos, no grupo, salvo engano, 3 companheiros (inclusive pai e filho) que nunca haviam pescado antes.

(Estes três acabaram indo para Manaus, mesmo sem nada arranjado. Vão aventurar e arrumar alguma pescaria por lá.  Espero que consigam e diminuam a frustração)

Teríamos dois outros que, apesar de já terem ido pra Amazônia, nunca tinham feito a pescaria ficando no barco (somente na pousada).
Teríamos outros dois (pai e filho) que, apesar de serem pescadores, nunca tinham pescado na Amazônia.

E teríamos vários outros que, como eu, já são “pescadores amazônicos”, que já foram pescar lá várias vezes, mas que,

ESTE ANO

não irão pescar na Amazônia.

Por culpa de um sujeito que achou que podia “dar o golpe” no nosso grupo de pescadores.

Certamente, como a velhinha do conto, estamos todos frustrados.

MUITO FRUSTRADOS.

Diferentemente da velhinha do conto, acho que ninguém irá morrer de frustração.

Mas, posso dizer, COMO DÓI.

Olhar a mala e a tralha ainda arrumadas e o "tubo" com as varas, ainda no meio da sala, prontos para serem embarcados para Manaus, dóí.

Lembrar que tiramos férias, fechamos escritórios, fechamos consultórios, deixamos nossas empresas em mãos de terceiros, tudo para ir pescar, dói.

Na próxima semana, dia após dia, lembraremos que não queríamos estar em casa: queríamos estar pescando.

Eventual e incerto ressarcimento financeiro, de modo algum, irá diminuir o prejuízo sofrido.


Como disse, após 15 anos seguidos, não irei pescar este ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente. Mas lembre-se: blog é meu! Se for escrever bobagens e/ou baixarias, SERÁ CENSURADO. Sem dó nem piedade.
ATENÇÃO: SE NÃO ESTIVER CONSEGUINDO POSTAR SEU COMENTÁRIO, EXPERIMENTE, NA CAIXA "COMENTAR COMO", LOGO ABAIXO, MARCAR "ANÔNIMO". MAS NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO.