sexta-feira, 23 de agosto de 2013

MAIS UMA FORMA DE TRÁFICO.




Estava eu, hoje, preso no trânsito, vociferando mentalmente contra as autoridades constituídas, nos três níveis de governo, quando ouvi uma notícia no rádio que, pela sua importância, me deixou boquiaberto.

O Vereador Paulistano LAÉRCIO BENKO (quem?), do Partido Humanista da Solidariedade (como?), propôs uma lei que proíbe a produção e venda do “FOIE GRAS” em Sampa.

Se você, meu caro e quase inexistente leitor gourmet, não sabe o que é isso, é o fígado de patos e gansos. Os bichos são superalimentados e deles se retira o fígado.
O mais comum é comermos o PATÊ de foie gras.
E eu acho muito bom.

Mas, e ante a falta de problemas de nossa cidade, o Bravo Edil achou de proibir o foie.
Fiquei preocupado com as consequências da lei.

Em primeiro lugar, certamente teremos manifestações, contra e a favor da lei.

Os “sans foie gras”, talvez capitaneados pelo curintxano Alexandre Pato, iriam para as ruas, onde quebrariam os restaurantes franceses (entre eles o “Paris 6”, frequentado pelo outro curintxano Emerson “Bicotinha” Milk-Sheik) exigindo o fim do foie.

Já os gourmets, encabeçados pelo são-paulino Paulo Henrique Ganso, também iriam para as ruas, talvez para a Zona Leste, onde promoveriam a quebradeira das “casas do norte”, exigindo o fim das “buchadas de bode”.

Em um segundo momento, serenados os ânimos e aprovada a lei, veríamos os movimentos de resistência.

Cidades próximas a Sampa, a fim de garantir uns troquinhos a mais, fariam “Festivais de Foie Gras”, onde os restaurantes fariam pratos e mais pratos com a iguaria.
Seriam inventadas a “Pizza de foie”, a “Empada de foie”, o “Filé a parmegiana coberto de foie” e etc.

Mas esses absurdos não seriam suficientes para encantar os gourmets.

Assim, teríamos uma debandada de gourmets da capital.

Milhões deles tomariam o rumo da “Cidade Luz”, obrigando a Air France a aumentar o número de poltronas de primeira classe em seus voos.
Isso acabaria, também, por causar sérios problemas uma crise internacional, na medida em que passariam os vistos franceses a serem negados, já que a emigração de gourmets brasileiros causaria o aumento dos preços do foie gras na França.

(Um efeito colateral benigno, que surgiria da debandada dos gourmets, seria a melhoria no trânsito.
Sem os gourmets em Sampa, haveria uma drástica diminuição de Mercedes Bens, Audis, BMW´s, Land Rovers, Jaguares e Porsches nas ruas, melhorando, portanto, o trânsito.)

Mas, nem todos os gourmets emigrariam.
E, para suprir os desejos dos que ficaram, surgiria o “Mercado Negro do Foie Gras”.

O gourmet receberia uma ligação em seu celular.
Número bloqueado.
Uma voz masculina, com sotaque aportuguesado, diria somente: “Chegou”.
Telefone desligado.
O gourmet, então, vestiria uma roupa de cores neutras, para não chama a atenção, deixaria sua Mercedes na garagem, pegaria um Chevete (preservado para essas ações) e iria até uma mercearia, escondida em algum bairro longinquo na capital.
Lá, após anunciar a senha e receber a correta contrassenha, seria levado a uma sala dos fundos, escura e úmida, onde o Manoel lhe entregaria, alvíssaras, uma porção do foie gras, embrulhada como se fosse coxão mole.
É da Fouchon”, diria Manoel.

Um navio afundaria no litoral brasileiro, despejando no mar, toneladas de latas de foie gras, que entrariam no Brazeel, zeel,  zeel, ilegalmente.
E por anos, perpetuar-se-ia a lenda urbana do "foie da lata"...
"Esse foie gras é da lata!", diriam os consumidores.

As autoridades constituídas, abestalhadas ante o aumento das vendas e do consumo de foie gras (lembrem-se, sempre, da Lei Seca norte-americana...), pleiteariam e obteriam a CRIMINALIZAÇÃO da produção e venda de foie gras:

Lei nº XXXXXX/2013

Art. 1º - Importar, preparar, produzir,  fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo e consumir, foie gras ou seus derivados:

Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.


Imediata e violenta repressão.
Seria criada a DECRIFOGRA – Delegacia Especializada em Crimes de Foie Gras.

Sairia no jornal:

Policiais da DECRIFOGRA, atendendo a uma denúncia anônima, fizeram uma grande apreensão de foie gras.
No interior de uma BMW Z4, nova, no compartimento próprio para transportes de esquis para a neve, encontrou-se dois quilos de foie gras, provavelmente trazidos do Paraguai.
O traficante foi preso em flagrante.

O traficante teria sempre, na ponta da língua, a desculpa, afirmando ser “usuário”:
Eu só tinha 5 figadozinhos comigo! O resto foi a polícia que colocou no meu bolso! Armaram pra mim, senhor! E era tudo pra consumo próprio!

Os gourmets, na "físsura", passariam, então, a vender seus quadros do Di Cavalcanti e Anita Malfatti, bem como suas primeiras edições de “Brás, Bixiga e Barra Funda” e “Paulicéia Desvairada”, para comprar foie gras.

E, nas “foiegraslândia” que surgiriam, veríamos os pobres gourmets, nas noites escuras, nas esquinas do Morumbi, Jardins, Brooklin, Moema, escondendo-se nas sombras, a fim de comprarem porções individuais de patê de foie gras (diluídas e misturadas com patê de presunto da Sadia)...

Falando sério:



ISTO É UM PAÍS SÉRIO?



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