segunda-feira, 12 de setembro de 2011

IMPRESSÕES



Alguém, que não seja do meio, já “frequentou” uma UTI?
É a tal da UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA.

Recentemente tive uma primeira experiência quando a mama foi parar em duas delas, aqui em Guarulhos e depois no Hosp. Sírio por conta de um “infartinho”.
Mas, como não tinha ficado EU lá, não pude achar bom ou ruim.

Pois bem, tive, agora, a minha 9ª experiência com pancreatites.
Como foi tudo na correria, acabei caindo no hospital de Guarulhos mesmo.
Acabei me socorrendo de um médico amigo, que não é exatamente “da área”.
E acho que por isso mesmo ele meio que “apavorou” e, tcharan... mandou-me pra UTI!!!
O cara é mil. Um ótimo profissional, excelente cirurgião.
Todos os meus agradecimentos para ele.
Mas, me mandar pra UTI... acho que ele não gosta muito de mim não...

E lá vai este poço de bondade, esta alma boa e caridosa, este ser incapaz de proferir uma mínima maledicência, calmo, tranquilo, refletido, de bem com o mundo, ficar internado na UTI.

Primeiro, esqueçam aquela coisa de filme americano, com “boxes” individuais para cada mané que está lá dentro, ligado a um monte de fiozinho, com um caninho no nariz e com enfermeiras gostosa de chapeuzinho.

É, na verdade, uma sala grande, com (no meu caso) nove leitos lado a lado, umas cortininhas meio merreca, penduradas no teto, barulhentas para serem abertas e fechadas.

Aí, pedem pra você tirar a roupa.
TODA a roupa.
Inclusive cuecas e meias.
E dão aquela camisola verde para você envergar.

Imagine a cena: eu, com meus 118 kilinhos, agradavelmente distribuídos por 1,80m de altura, de camisolitxa verde-palmeiras-antes-do-uniforme-marca-texto!
Seria lindjo.
Mas não foi porque, obviamente, aquele instrumental de tortura psicológica e moral, NÃO ME SERVE.

Aí, enfiam você no tal do leito, pelado (a tal da camisola verde fica fazendo figuração, colocada na frente, só pra esconder, meio lá meio cá, o “menino”).
E surgem os tais fiozinhos.
Um monte de eletrodos são colados em seu peito. Com alguma cola tipo super-bonder, manja?
Se você, caro e quase inexistente leitor, me conhece pessoalmente, sabe que o meu peito é coberto de grossos e sexys pêlos pretos e muitos brancos...

Penduram também um treco com uma luzinha vermelha no seu dedo.
Você fica parecendo o ET: “ET PHONE HOME...!!!

E pronto.
Sem computador.
Sem tablet.
Sem celular.
Sem óculos.
Sem Ipod.
Sem relógio
SEM UM MÍSERO LIVRINHO QUE SEJA.

Mas, o que está ruim, SEMPRE PODE PIORAR!!! Ou não?
Colocam uma tvzinha, menor que a que eu tenho aqui no meu escritório, ligada dia e noite na GLOBO!!!

E começa o tratamento, que consiste, basicamente, em não te dar NADA para comer e te enfiar LITROS de remédios para dor.
Legal, pensei, vou dar uma “apagada” e só acordo quando tiver sarado.
Ou não...

Na minha “ala”, tinha dois enfermos que, não sei se por conta da senilidade ou dos remédios, estavam, como direi... “agitados”.

A mulher berrou a noite inteira, pedindo que alguém ligasse para o 190.
Também servia o 192.
Até mesmo o SAMU quebrava o galho dela...

E ninguém para sacrificar a coitadinha...

E tinha um homem, que berrava cobras e lagartos contra a “Graça”, com uma voz funérea e estertorante.
Que ela era ruim,  horrível, que ela era malvada, que ele ia partir a cara dela.
Até fiquei pensando se não deviam colocar ele junto da maluquinha só pra ver o que rolava...
Mais uma vez, nenhuma alma boa apareceu pra fazer isso.

Ok, OK, dirão vocês, acabou.

NÃO, direi eu!!!
Tem mais!!!

Nos filmes gringos, as maquininhas são silenciosas. Quando muito, soltam um discreto e bem educado “bip” de vem em quando.
E quando uma daquelas maquininhas começa apitar e mostrar uma linha reta, sai todo mundo correndo, cercam o “infeliz”, aplicam o desfibrilador (será que é assim que se escreve? É aquele treco que dá choque no peito do torturad, digo, do adoentado), dão porrada no peito do coitado, tudo para ajudá-lo morrer mais rápido.

Na “minha” UTI, as máquinas apitavam, bipavam, zuniam, tilintavam, reverberam, soavam, belimbelavam, apupavam, zurravam, tonitruavam e os enfermeiros NEM SE MEXIAM!!!
Por horas!!!
Se não iam mesmo ajudar o cara, porque ligar a maquinha? Não tem "mute" na bichinha?
Depois de algum tempo, como um jogo mental, fiquei tentando adivinhar qual som viria a seguir: um tomtom, seguido de plim, ou um poing mais tuftuf, com acorde de fundo de nhoinft?
Mas essa fase durou pouco e, buscando ajuda na minha vasta biblioteca musical mental, passei a cantar, mentalmente, musicas que “coubessem” naquela cacofonia dantesca.
No geral, axé cabia...

Agora acabou.
NÃO!!!!
Tem mais!!!

O povo que lá trabalha, obviamente trabalha por turnos.
Assim, o povo da noite chegava lá a mil por hora, com todas as histórias para contar para os coleguinhas.
E contavam!!!
Por horas e horas, contavam dos filhos, dos maridos, das namoradas, dos cachorros, das igrejas que frequentavam... 
Ouvi altas discussões teológicas lá! Imagina:
“- Fulana, já vi você usando calça fora do hospital. Sua igreja deixa?”
“- Claro Beltrana, o importante não é a saia, mas a inocência interior de cada um...”
Não é demais?!?!?!
E TODOS tinha que ouvir.

Em alguma hora da madrugada (estava sem relógio, lembra?) eles ficavam em silêncio, apagavam quase todas as luzes.
Você dirá: ótimo, um descanso para o penitente...
Ledo engano.
Era uma forma de tortura ainda mais elaborada...

Aí você, que tá com dor, cansado, dolorido, entupido de remédios, com dor (eu sei que repeti, fiz de propósito), sonado, vendo elefantes roxos pelas paredes, vê entrar na sala um outro FDP, com um diabo de uma máquina imensa, e cisma de tirar “abreugrafia” de todo mundo que, milagrosamente, cochilava.
As luzes são acesas, todos são acordados, enfiam uma chapa entre a cama e as suas costas (lembre, eu to peladão, quentinho debaixo do cobertor e a porra da chapa tá GELADA!!!), e viva, começa tudo de novo...

E, apesar de 3 dias de UTI, sobrevivi.
Estou em casa e com recomendações de descansar e comer sopinha.
Emagrecer...

Mas, gente, se gostam de mim, torçam: aguento mais umas pancreatites.
Mas não sobrevivo a outra UTI.

Um comentário:

  1. Se eu não tivesse lido este post no SEU blog, se ele estivesse publicado num jornal ou revista, só por aquele parágrafo "E lá vai esse poço de bondade..." teria na hora descoberto que o texto só poderia ser seu. Quem mais reúne todas essas qualidades além de VOCÊ? rsrs
    Só lembre-se: saiu da UTI , em casa agora, tem as sopinhas...
    Beijos

    ResponderExcluir

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