EXPEDIÇÃO SERRA DA CAPIVARA
O nome da expedição seria “Caminhos do Brasil”.
Mas, para mim, será sempre “Expedição Serra da Capivara”.
Explico.
Faz muito tempo que eu queria visitar o local, um sítio
arqueológico com pinturas rupestres.
Minha “curiosidade nerd” me empurrava para lá.
Assim, rodei 5.487,2 quilômetros (ida e volta...) só para
ver aquilo.
Mas, vamos por partes.
PRIMEIRA PARTE
Saímos de Guarulhos, eu e a Sueli, a bordo do Rufus (meu
Troller vermelho), no dia 5 de julho, as 9:00hs.
Sem pressa, pegamos a estrada com destino a Belo Horizonte. Viagem
tranquila, sem nada digno de nota.
Lá nos hospedamos no OURO MINAS HOTEL.
Já havíamos ficado lá, em outra ocasião. Adoro aquilo.
Pois bem.
Na chegada, notamos uma concentração incomum de CORINTIANOS
no hotel.
Bom, teria jogo naquela noite, e o time estava no hotel. Junto
com um monte de torcedores.
Só sei que, quando descemos para jantar (estávamos famintos,
pois não havíamos almoçado), encontrei o meu IRMÃO no saguão!!!
Ele aproveitou que tinha um trabalho a fazer em BH e ficou
para assistir o jogo, corintiano que ele é.
Foi uma farra.
Ele e um monte de amigos ficaram com a gente, que somos são-paulinos,
até a hora que saíram para ir para o estádio.
Muita coincidência, já que ele não sabia que estávamos “na
estrada” já naquele dia.
No dia seguinte, saímos em sentido norte.
Nossa programação era pernoitar em Teófilo Otoni, aonde
chegamos por volta das 17:20hs e nos hospedamos no Hotel das Palmeiras.
Estrada perigosa, lotada.
Viagem bem difícil.
Aliás, dirigir nas estradas mineiras é um capítulo à parte.
Se “o melhor de Minas Gerais é o mineiro” (que são todos
muito simpáticos, gentis e com um sotaque delicioso!), as estradas deles...
ai... são difíceis.
Dirigir lá é uma mistura de “Velozes e Furiosos” com “Mad
Max” (I... o original...).
As estradas são, em geral, de mão dupla. Não tem duas pistas.
São malcuidadas, cheias de buracos. Quase sem acostamento.
Não bastasse, repentinamente, “surge” no meio da pista, uma
LOMBADA. Você que está vindo em velocidade elevada, tem que “juntar” no freio.
Verdade seja dita: sempre tem placas indicando as lombadas. Mas estas, em
geral, não têm a necessária pintura, sendo quase “invisíveis”. E tem radares.
Montes deles.
E o pessoal, sempre com muita pressa, abusa das
ultrapassagens perigosas e temerárias.
Ao longo de toda a viagem, cruzamos com pelos menos 5 caminhões
tombados.
Mas, deu tudo certo e estamos de volta.
Vivos.
Pela minha experiência, dirigir por mais de 600km por dia é inviável.
Para mim, pelo menos.
Já vi gente que atravessa dia e noite dirigindo. Não tenho “coragem”
(e nem mais idade) para isso.
Mesmo assim, terminamos nossos trechos do dia bem cansados.
SEGUNDA PARTE
No dia seguinte, mais uma “perna”, agora até Vitória da
Conquista, na Bahia onde, no dia seguinte, encontraríamos o grupo para iniciar
a expedição propriamente dita.
O grupo foi organizado pelo Marcelo “Gaia” Fuzzinato, da “Gaia
Expedições”.
Já viajamos com ele outras vezes e é sempre garantia de uma
viagem tranquila. Tudo muito organizado, bons hotéis (dentro do possível) e sem
pressa, dentro dos limites do grupo com uma equipe de apoio que só pode merecer
elogios.
O grupo tinha 7 carros, mais dois da organização.
Chegamos um dia antes do programado, nos hospedando no hotel
Ibis Style, que era o ponto de encontro do grupo. Queríamos um diazinho para
descansar, antes de começar a expedição propriamente dita.
E fizemos um programa meio “esquisitão”.
Paulistanamente, resolvemos, acreditem, ir a um shopping
center.
O de Vitoria é bem bonitinho.
Mas, o absurdo: eu fui cortar a barba, em um salão dentro do
shopping, enquanto a Su foi “arrumar o cabelo” em outro salão... Saímos de
Guarulhos para “embelezarmo-nos” em um shopping de Vitória da Conquista.
Pior.
Andando pelo shopping, passamos por uma loja.
Em uma “arara”, camisetas (basiquinhas, nada especial) em
tamanho “Mauro”. Não é muito fácil achar camisetas para mim.
Só sei que entrei na loja e resolvi comprar uma camiseta de “coqueiros
azuis”.
Ao lado, em um balcão, umas calças que me pareceram ótimas para
dirigir.
Resultado: saí da loja com uma camiseta e uma calça.
O absurdo final: a loja era a... RIACHUELO!!!
Ou seja, fomos para a Bahia para fazer compras na Riachuelo.
Então, tá.
No outro dia, sábado, com todo mundo lá no hotel, toca a
fazer a adesivação dos carros, onde já começamos a conhecer os companheiros de
viagem. Recebemos nossos kits, com camisetas da expedição, bonés da “Gaia
Expedições”, uma apostila com o trajeto e informações sobre a viagem e sobre
nossos companheiros de aventura. Todo mundo olhando e analisando as “viaturas”
dos “amiguinhos”. E exibindo, orgulhosamente, o seu veículo.
A adesivação é importante.
Não só para identificar os veículos como sendo um grupo (isso
é importante nos deslocamentos), como para definir a posição dos carros no
comboio. Isso também é importante. Você se acostuma com quem vai na frente e
atrás de você. Se acontecer alguma coisa, fica mais fácil de saber.
O Rufus ganhou o número 5.
A noite, jantar de confraternização no próprio hotel.
Foi o primeiro contato com o grupo todo. Muita conversa e já
deu para perceber que eram todos gente boa.
No dia seguinte, domingo, 9 de julho, depois de acertamos as
frequências dos rádios de comunicação, caímos na estrada.
Os rádios também são importantes. Em lugares onde não existe
sinal de celular, os rádios salvam o dia. Além de serem uma distração nos
deslocamentos. Piadinhas e informações trocadas pelo rádio, ajudam o caminho
ficar menor.
O destino era Mucugê, Bahia.
Mas, no caminho tinha IGATÚ, a “Machu Pichu” brasileira.
Sim. Isso existe.
É uma vilazinha, no alto de um morro.
Pelas histórias contadas, aquilo foi um “acampamento” de
garimpeiros, até virar uma vila.
Hoje tem uma infraestrutura boa e um monte de casinhas
bonitinhas.
O almoço lá foi... demorado.
Tinha um único “garçon”, que acho que era o dono do lugar.
Ficava se desdobrando para tentar atender todo mundo.
Só sei que comemos um “baião de dois”, com purê de mandioca
e bifes de carne de sol.
O “baião” e o purê estavam ótimos. E, como não sou muito de
carne de sol, achei os bifinhos mais ou menos.
Mas, comemos bem.
Uma voltinha na vila e já encontramos pintura de disco
voador (devem vir direto da Machu Pichu peruana...), tomamos um café em um
lugar gostosinho, ficamos na pracinha olhando a vida passar.
Fiz, obviamente, algumas fotinhos.
Pousadinha simples e honesta.
Banho, descanso e saímos, a pé, para jantar.
Como havíamos almoçado tarde, optamos por jantar SORVETE. Estava,
como direi... bem mais ou menos. Mas, era o que tínhamos.
Foi divertido. Do lado de fora, tinha um rapaz com uma
caixinha de som. Tocava “clássicos da sofrência”. Quando cantei uma música junto,
o moleque achou o máximo!!!
A programação do dia 10/07, segunda feira, foi irmos ao “Projeto
Sempre Viva”.
Aqui a história é a seguinte: tem uma florzinha lá, a tal da
“Sempre Viva”, que existe somente lá e está em extinção. A tal da florzinha não
murcha. Por isso o nome. Segundo o guia, um buquê daquilo era vendido a 300
dólares!
A caminhada pelo parque rendeu boas fotos de cachoeirinhas, pedras, abelha e Sempre-Vivas, obviamente.
Uma historinha: no grupo, tínhamos duas crianças, de 7 e 5 anos, o Nicolas e a Helena. Uma gracinha os dois. Simpáticos, educados, crianças toda vida.
Durante o “briefing”, foi dito para irmos ao parque com “roupa
de banho”, para banho nas cachoeiras.
As crianças ficaram espantadíssimas!!! Como “roupa de banho”,
se tomamos banho PELADOS?!?!!?
Depois de muitas risadas, a Maria Claudia, mãe dos
pimpolhos, explicou que “roupa e banho” era, na verdade, “roupa de piscina”...
Almoço em um self-service, o da D. Nena, e voltamos lá para
perto do projeto, para ver um “museuzinho” com peças do tempo do garimpo.
O mais interessante é o museu em si. Segundo o pessoal, os
garimpeiros moravam ali.
Imagine uma pedra enorme. Em “balanço”. Os caras fecharam a
volta e... tinham uma casa, cujo teto era aquela “pedrona”.
Muito interessante.
Tivemos, também, uma visitinha a um GAUCHO, que faz um “licor
de morango”.
Coisa boa.
E o guia Henrique, um simpático guarulhense “perdido” por
lá, nos levou a uma “fábrica de chocolates”, a ADAMAS, da baiana Letícia.
A mulher inventou umas combinações diferentonas e ótimas:
chocolate com café e laranja, com erva cidreira, limão siciliano e sei lá mais
o que.
Muito bom!!!
A noite, uma surpresa deliciosa.
Tínhamos a informação de uma pizzaria, a “Point da Chapada”
que seria boa. Com a empáfia típica dos paulistas, pensamos “pizza baiana? Deve
ser horrorosa”.
Rapaz, que pizza BOA!!!
Massa fininha, produtos de primeira, garçons educadíssimos
(que queriam que voltássemos para comer uma comida típica de garimpeiros, “reconstruída”).
Sem dúvida, top 3 na lista das melhores refeições da
expedição.
Dia 11, estrada. Saímos as 9:30hs, e fomos para Lençóis,
também na Bahia.
Trecho longo, com almoço em um self-service na estrada, com
vista para a “Pai Inácio”, um “morrão” com vista para a chapada diamantina
toda.
Não subimos o morro, preferindo ir direto para o hotel de Lençóis, o Hotel Canto das Águas.
Outra agradabilíssima surpresa!
Um hotel lindo, delicioso.
Meio “labiríntico” (chegamos a nos perder uma vez...). Mas
os quartos eram ótimos, uma piscina gostosa (mas gelada), um monte de “cantinhos”
para relaxar e uma vista linda do rio que corta a cidade de Lençóis.
Descanso, banho e jantar na cidade.
Lençóis, ao que parece, é uma cidade de estudantes. Tem um
monte de bares, lanchonetes e restaurantes, música em todo lugar. E ladeiras. Muitas.
Todas para cima...
Escolhemos um restaurante de massas.
E outra historinha: o garçom tinha um forte sotaque espanhol.
Pensamos, de forma quase discriminatória, “o que um ARGENTINO veio fazer no
interior da Bahia?!?!?!?”.
Pois bem.
Conversa vai, conversa vem, o cara super simpático, Jorge, contando
que se casou com uma baiana e, por isso estava ali.
Mas a surpresa maior: ele não era argentino. Era espanhol da Catalunha!
O mundo é maluco mesmo.
Nós brasileiros, conhecemos muito pouco do nosso próprio
país.
E um catalão estava servindo mesas, feliz da vida, em um
restaurante de massas no interior da Bahia.
Na quarta-feira, ainda em Lençóis, fomos visitar o “Parque
Arqueológico da Serra das Paridas”.
Era para ser um “dia livre”. Mas a Su descobriu esse parque,
falamos com o Marcelo “Gaia” e parte do grupo foi até lá.
E foi o nosso primeiro contato com as pinturas rupestres.
No local, o “dono” do lugar nos recebeu muito bem, com um
cafezinho coado na hora.
Contou um pouco da história do local (que não tem nenhum apoio governamental) e fomos ver as pinturas.
Bichos, coisas indecifráveis e um lindo “E.T.”, como o do
filme do Spielberg!!!
Obviamente, comprei uma caneca do tal “E.T.”
Voltamos para o hotel para uma “tarde livre”.
Almoço. Simplesmente SUPIMPA. Uma moqueca de camarão muito
boa. E olha que eu nem gosto de moqueca!
De sobremesa, uma taça com morangos e creme que estava
demais. A Su foi de creme Brulê. Mais uma refeição top 3 da viagem.
Tarde preguiçosa. Enquanto a Su desceu para a piscina,
aproveitei para dar a primeira “arrumada” nas fotos, passando para o
computador.
Depois, morgar a beira da piscina, comendo mandioca frita...
Na quinta-feira, dia de estrada.
Uns 500km, até Petrolina.
E, na chegada, em Juazeiro, deu para matar a saudades de
engarrafamentos... Petrolina fica do outro lado do Rio São Francisco. Só o rio
separa das duas cidades. E os estados da Bahia e de Pernambuco.
Juazeiro com um tráfego horrível. Petrolina bem mais
tranquilo.
Por minutos perdemos o pôr-do-sol no “Velho Chico”.
Hotel Nóbile Suite Del Rio. Bem gostoso, quarto enorme, com
janelões para o rio.
Jantamos em um restaurante ao lado, a “Pizzaria Alforria”,
eu de ceviche e a Su de pizza. Acabei comendo a pizza dela também...
Depois, dormir. Pregados.
E nas sexta-feira, viagem até a SERRA DA CAPIVARA!!!
Finalmente!!!
Nossa “pousada” ficava dentro do “Parque Nacional da Serra da Capivara”. É chamada de “Albergue do Parque Nacional da Serra da Capivara”. Simples, mas honesto.
Almoço lá mesmo (self-service), uma voltinha na loja de
cerâmicas (isso merece um capítulo a parte) e fomos visitar o “Museu da
Natureza”.
Imagine um lugar legal, todo “tecnológico”, NO MEIO DA
CAATINGA!!!
Esse é o museu.
Fósseis e dentes de tigre convivem, pacificamente, com
projeções de dinos e bichos da mega-fauna, como o esqueleto de uma preguiça
gigante.
A Su passeou, em uma asa delta virtual, voando pela caatinga
e seus cânions.
Se dentro do museu a temperatura estava agradável, fora, um
calor de rachar.
Isso é o nosso deserto.
E aqui, uma surpresinha.
Nosso guia de um show, explicando e declamando "Asa Branca", do Mestre Luiz Gonzaga.
Saímos do museu e fomos para um outro lugar do parque, que tem um barzinho e um auditório.
Ali, um arqueólogo local contou um monte de coisas sobre o
parque e sobre a ocupação humana por ali (os brasileiros datam a ocupação em
100.000 anos; os “gringos” aceitam, no máximo 30.000 anos; e as pinturas em si
são datadas de 12.000 anos). É a maior concentração de pintura rupestre do
mundo!
Ficamos “enrolando” até anoitecer.
E eu pensando “como vamos fotografar aquilo NO ESCURO?”. Eu
tinha ido até lá só para ver e fotografar as pinturas!!!
Já estava de mau humor por causa disso.
Como sou bobinho...
Fomos para a pedra (que é enorme! Um verdadeiro “morro”!), o
local tem uma passarela e a pedra... estava toda iluminada!
Rapaz, fiquei de queixo caído.
É LINDO!!!
Confesso: fiquei emocionado.
Andando pela passarela, ficamos a um metro das pinturas. Iluminadas,
não tive qualquer problema para fotografá-las.
Bichos, homens (com o... o... como direi... “membro viril
ereto”...), cenas de caçadas, cenas que parecem ser de festas, homens com “cocares”.
É de se imaginar que estas coisas, que deviam ser do cotidiano dos nossos antepassados,
tinham muita importância para eles, a ponto de “tatuarem” estas coisas na
pedra!
Mas, sem dúvida, o mais icônico desse local é a pintura do “beijo”. Duas figuras humanas, aproximam suas cabeças e se tocam.
Se é, realmente, um beijo, ou um sussurrando ao ouvido de outro, ou algo totalmente diferente, nunca saberemos.
E li em algum lugar que esta seria a primeira representação
gráfica de um beijo.
Mas, novamente, fiquei emocionado.
Finalmente, admito: não consegui reproduzir, em fotografias,
com fidelidade, o que são aqueles desenhos.
Mas, tentei.
Voltamos para a pousada, eu ainda meio boquiaberto...
CERÂMICA
A história conta que, no início da década de 1960, a Dra. NIEDE
GUIDON, antropóloga franco-brasileira, ouvi falar sobre as pinturas da Serra da
Capivara.
Não vou entrar em detalhes, já que existem livro escritos
sobre a saga dela.
Basta dizer que, anos depois, quando foi criado o parque,
graças ao trabalho e empenho dela, a Dra. Niede, pensando no futuro, reconheceu
o caráter turístico da região. Mas, isso não era suficiente para atender a
população do local, fazendo com que eles trocassem a caça, extração de pedras
(ou sei lá o que eles faziam por ali), por alguma coisa que desse dinheiro e
sustento para os moradores.
Acabou que se chegou à CERÂMICA. Vieram ceramistas que
indicaram qual a melhor argila, existente no local, para a confecção de
cerâmica.
A partir daí, os locais começaram a confeccionar peças
(pratos, vasos, canecas, copos) e passaram a reproduzir nessas peças as
pinturas lá existentes.
E ficou muito legal!!!
Fizemos uma visita guiada na fábrica, vendo a confecção das
peças desde a manipulação da argila, moldagem, reprodução dos desenhos, até a
queima da peça.
E é impressionante.
Um dos artistas (não são só “artesãos”) nos contou que tem, na
cabeça, 500 desenhos, que são reproduzidos por ele nas peças!
Na verdade, o método é milenar. É certo que, hoje, os tornos
são elétricos, usa-se luz artificial para melhor ver a peça, fornos à gás, caminhões
para o transporte.
Mas, lá no fundo, as peças são feitas como há muitos e
muitos séculos. Um torno, para as peças arredondadas, formas de gesso para outras
peças, um “estiletezinho”, meio improvisado, para fazer os desenhos. O resto, é
arte.
Assim, temos uma técnica de SÉCULOS, onde são reproduzidos
desenhos MILENARES... Emocionante.
Eles fazem, para uma grande rede de lojas de produtos de
decoração (não vou fazer propaganda deles), uma linha de produtos em que os
desenhos ficam EMBAIXO das peças... não entendi muito a lógica disso. Enfim.
Obviamente, os desenhos não ficam só na cerâmica.
São reproduzidos em camisetas, bolsas, bonés, imãs de
geladeira e até nos azulejos do banheiro da pousada.
Achei tudo muito emocionante, marcante e, por que não,
bonitos.
E claro que voltamos com umas “pecinhas”. Não podia ser
diferente.
PROSSEGUINDO
A partir da visita aos desenhos “principais”, tudo o mais
ficou meio “pálido”.
Ainda visitamos uma gruta (sem desenhos), um local com outros
desenhos em pedras menores.
Até chegar a “pedra furada”.
“Pedras furadas” tem um monte por aí.
Mas esta é muito bonita.
Grande.
Altamente “fotografável”.
Um passeio até um morro de pedra, para ver o sol.
Essa visita rendeu boas fotos, ainda que eu não tivesse
subido até lá no alto.
Antes, mais uma coisa que mexeu comigo. Agora, não com minha
“porção nerd”, mas com minha “porção rali”: a travessia dos Cânions do Viana!
O Rali dos Sertões passou por ali, salvo engano em 2019.
Muita poeira. O Rufus ficou lindo, todo sujo e empoeirado!
Antes um almoço.
Fomos atendidos em uma casinha, no meio da estrada de terra,
antes de entrar nos cânions.
Entendemos a precariedade do local, meio que ainda sendo
construído. Mas, surpreendentemente, não havia BANHEIROS no local.
Os homens se viraram mais facilmente que as mulheres.
Perrengues de viagem. Se não tiver, QUAL A GRAÇA?!?!?!
Na saída dos cânions, já no fim da tarde, um off road de sol
na cara mais poeira. Muita poeira. Ninguém era piloto de rali.
Foi “punk”. Em alguns momentos, tive que parar o Rufus
(morrendo de medo de quem vinha atrás) para esperar a poeira baixar um pouco e
poder ENXERGAR a estrada.
Mas, novamente, foi tudo ok.
Fomos para o último hotel da expedição, o Hotel Gurgueia
Park.
E, falando a verdade, hotel meio “estranho”.
A porta do quarto era de alumínio, uma coisa incomum para
uma porta de quarto de hotel. Meio estranho.
Mas o melhor estava reservado para o quarto.
Uma bela cama Queen size, até confortável.
E, do “meu lado” da cama, a “mesa de cabeceira” ficava,
literalmente, onde eu deveria colocar a MINHA CABEÇA. Fixada na “guarda” da
cama.
Um absurdo.
Mas, “sempre alerta”, como diriam os escoteiros: saquei do
meu inseparável canivete suíço (ADORO canivetes suíços... tenho uma coleção
deles...) e, rapidamente, usei a chave philips do canivete e tirei os parafusos
da tal cabeceira, desmontando aquele treco, retomando o meu lugar de direito na
cama. E tenho dito. Perrengue resolvido.
Jantar final e de confraternização no restaurante do hotel.
Bem gostoso, apesar do apertinho no coração com as
despedidas. O Nicolas e a Helena presentearam as famílias com origamis feitos
por eles.
Tudo acabado.
Será?
Um último perrenguinho, só para não perder o costume.
Voltamos para o quarto e, do meu lado da cama, uma POÇA
D´ÁGUA!!!
O ar condicionado vazava para DENTRO do quarto.
Pregados, não íamos trocar de quarto àquela hora. A Su pegou
o tapetinho do banheiro, colocou na poça, pegando uma fronha colocando na
cortina do quarto, onde a água pingava. Pelo menos, nos livramos do barulho de
água pingando.
Apesar que, com o cansaço, acho que dormiríamos até com uma
britadeira no quarto.
TERCEIRA (e última!) PARTE
A volta.
Mais uma historinha: olhando o mapa, ainda em casa, antes da
viagem, estudando as opções para a volta, vimos que era possível passar pela
cidade de CORRENTINA, na Bahia.
Pois bem.
Na década de 1970, a dupla musical “Sá & Guarabyra”
viajou pelos sertões do nordeste. Passaram pela cidade de Correntina.
Quando voltaram para o Rio de Janeiro, gravaram um LP (que
coisa mais antiga...) chamado “Cadernos de Viagem”, incluindo aí a música “Xote
Correntino”.
Ganhei esse LP de um primo. E o “Xote Correntino” encantou
todo mundo.
Uma prima, a Mara, que toca violão, cantora e música de mão
cheia, acabou por tirá-la, passando a ser uma música meio “obrigatória”, nos
encontros de família.
Assim, fui meio compelido a passar por Correntina.
Toca a ir para lá.
A estrada passava pela cidade de Manga, que fica nas margens
do “Velho Chico”. Foto feita, estrada novamente, onde um errinho de rota, nos
colocou na “Trilha dos Brutos”. Um off road fora da programação. Para o Rufus
foi molezinha.
Chegando, hospedagem no Hotel Correntina Palace Hotel.
Outro hotel “divertido”. O pé-direito do quarto tinha uns 5
metros (exagero talvez, vai... mas era alto pacas...). A porta do quarto era...
DE VIDRO!!! Com um “adesivo” imitando madeira, para garantir a privacidade.
Estávamos em plena segunda feira.
No fim de tarde, uma voltinha pela beira do Rio das Éguas,
que corta a cidade. Como cantam “Sá & Guarabyra”, “corrente velho, de água
boa e limpa, fazendo o que era seco, verdejar, a gente esquece que ainda tem
caminho a frente, na corrente do corrente, na sombra do jatobá”.
Bom, voltamos para o hotel e, para nossa surpresa, nada aberto! Jantar onde?
A menina da portaria passou, então, o telefone do “espetinho
do Clésio”, única coisa que fazia comida na segunda-feira e fazia delivery.
Pedimos, então, ESPETINHOS.
E ESTAVA BOM PACAS!!!
Ou estávamos com fome.
Ou as duas coisas.
Dormir para pegar estrada no dia seguinte.
Percurso longo, de Correntina/BA a Montes Claros/MG.
A estrada era a BR-135 (salvo engano). Ora, pensamos, BR... estrada
asfaltada... tudo tranquilo.
Pois é.
De repente, o asfalto acaba e estamos em uma estrada de
terra!
Uns 30km de off road inesperados! E era a BR 135!!!
A única explicação que nos ocorreu, era que aquele trecho
cortava um parque ou coisa parecida. Talvez fosse proibido asfaltar aquele
pedaço de estrada. Vai saber.
Quando o asfalto reapareceu, outro perrenguinho: o GPS
indicava uma saída e o Waze outra. Nada como um errinho de 20km para ir, mais
20km para voltar.
Nada que nos tirasse o bom humor.
Enfim, Montes Claros, hospedagem no Rametta Hotel.
Outro hotel simples, mas honesto.
Ar-condicionado funcionando, sem “goteira” no quarto. Mas,
sem restaurante.
O rapaz da recepção disse que, ao lado do hotel, literalmente,
na calçada, havia um “espetinho”. O “Espetinho do Agnaldo”. Pensei: “espetinho?
De novo?”.
Foi a melhor coisa que fizemos.
O lugar era uma “butique de carnes”. Os espetinhos estavam
simplesmente DELICIOSOS!
Comemos filé, frango, coração de frango, pão de alho... tudo
ótimo.
Depois, só dormir para pegar estrada no dia seguinte.
E na quarta feira, de Montes Claros a Belo Horizonte.
Tinha tudo para ser uma “perna” tranquila.
Mas, as estradas de Minas Gerais estão em obras. TODAS elas.
Ao mesmo tempo. Em vários trechos. Parabéns aos envolvidos.
Porém, foi uma perna muito cansativa, em função dos “pare-e-siga”.
Em um deles, ficamos praticamente uma hora parados!
Perrenguinho de viagem. É de lei.
Em BH, de volta ao nosso querido Ouro Minas Hotel.
Jantamos, deliciosamente no próprio hotel e caminha. Ainda tínhamos
uns 600km para chegar em casa.
Na quinta-feira, dia 20/07, depois de um delicioso café da
manhã, estrada.
Esta já bem mais conhecida, menos perigosa (pista dupla),
com mais estrutura.
Mesmo assim, cansamos. Efeito do “to chegando em casa”, aonde
chegamos no fim da tarde.
Tudo ótimo, não fosse a necessidade de DESCARREGAR o Rufus.
Largamos tudo que não precisávamos imediatamente, e
descarregamos só no dia seguinte.
E foi isso.
Cinco mil, quatrocentos e oitenta e sete quilômetros e 200
metros de viagem.
Visita a regiões que, dificilmente são visitadas pelo turista
“comum”.
Sensação gostosa de ter feito uma coisa diferente, meio “maluca”.
E que queria fazer faz tempo.
Meter o pé na estrada é bom.
Nada contra viajar de avião. Nada contra viajar de navio ou de
trem.
Mas o carro tem o seu charme, o seu desafio.
E como cantam Sá & Guarabyra (novamente eles...):
Como a distância, matando as palavras,
Na minha boca sempre o mesmo assunto,
O pó da estrada.
O pó da estrada brilha nos meus olhos,
Como as distâncias mudam as palavras,
Na minha boca sempre a mesma sede,
O pó da estrada.
Conheci um velho vagabundo,
Que andava por aí sem querer parar,
Quando parava,
Ele dizia a todos,
Que o seu coração ainda rolava pelo mundo.
O pó da estrada fica em minha roupa,
O cheiro forte da poeira levantada,
Levando a gente sempre mais à frente,
Nada mais urgente,
Que o pó da estrada,
Que o pó da estrada.”
Resumo:
Não pense que é uma viagem barata.
São hotéis, combustível, refeições, isso sem contar o pacote da “Gaia Expedições”.
“Dá para fazer com carro 4x2?” alguém pode perguntar.
E mesmo o asfalto, dado ao estado das estradas, pode ser cruel para um carro mais frágil.
De combustível, gastamos R$ 2,631,89 reais. Na verdade, teria que encher o tanque mais uma vez. Mas, já dá para ter uma ideia.
Pedágios: R$97,00.
Sensacional esta viagem,paisagens espetaculares. Tirando os *perrengues* acredito q foi uma experiência muito legal. Q bom terem chegado bem. Abraços Mauro e Sueli
ResponderExcluirFantástico Mauro.
ResponderExcluirQue viagem supimpa Maurao. Sem perrengues não tem graça. Rsrsrs
ResponderExcluirCara. Viajei com vocês. Me senti imerso na expedição. Belo relato com simplicidade mas intenso e instigante.
ResponderExcluirEstive em vários lugares que passaram. Belos lugares. Mas cada viagem é única. Não tem outra igual. Parabéns! Que venham outras viagens! O mundo é grande e a vida é bela!