Tenho dois amigos que falam que
querem morar em Portugal.
Um deles acredita que Portugal seria
um lugar melhor e mais seguro, para criar os filhos adolescentes.
O outro, não sei bem porque quer ir
para lá.
Ambos os amigos são pessoas cultas,
instruídas, inteligentes, classe média alta.
Como eu, ambos são funcionários públicos.
Trabalham muito e seriamente.
Lembrei de “Um ensaio sobre a
cegueira”, do Saramago (um português...), e comecei a pensar em um “roteiro de ficção cientifica”
para um livro ou um filme: o que aconteceria se, apocalipticamente, houvesse um
êxodo no Brasil?
Não um êxodo qualquer.
Um “êxodo qualificado”.
Imagine, MCeQIL, se de um dia para
outro, todos os funcionários públicos, de todas as esferas de poder, pedissem
exoneração e deixassem o país.
E se junto com eles, deixassem o país
os pequenos e médios empresários.
Os comerciantes.
E os professores.
E os pensadores, os cientistas, os
pesquisadores, os médicos especialistas, os engenheiros, os desenvolvedores de
software, todos, sem nenhum tipo de violência, sem nenhum tipo de revolta,
repentinamente, cansados de tudo, fossem embora.
Todos eles, com o espírito
derrotado, sem perspectivas, exaustos, iriam embora.
O que sobraria no Brasil? O que
aconteceria aqui?
O meu roteiro ficcional exigiria que
ficassem aqui, os pobres e os analfabetos.
Ficariam os menos favorecidos pela
sorte, os incultos, os intelectualmente menos favorecidos.
Ficariam os aproveitadores.
Os militares.
Os criminosos.
Os “loucos de todo gênero”, como se
dizia antigamente.
Os políticos, claro.
O que aconteceria então?
“Ninguém morreria de fome”, dirão
alguns, “já que não partiriam os trabalhadores rurais”.
Será?
A agricultura hoje é muito mais mecânica
que humana
.
“Ora”, dirão outros, “são só 'intelectuais'. Não farão falta. Tudo ficará bem”.
Será?
E quando as máquinas quebrarem,
quando se precisar de médicos, de engenheiros, de juízes, promotores,
advogados? De computadores que funcionem? E quando os celulares pararem de funcionar?
E os políticos?
Começariam a RESOLVER problemas ou
terminariam de saquear o país?
Seria o caos ou tudo, com o tempo,
entraria nos eixos?
E quais seriam esses "eixos"?
Em resumo: somos minimamente
importantes na ordem geral dos fatos? Fazemos (ou faríamos...) alguma
diferença?
Como terminaria o meu livro/filme?
Não vou deixar o Brasil.
Não porque sou patriota empedernido
ou porque “amo de paixão” este país.
Acho que muito mais por preguiça que
por qualquer outra coisa...
Não tenho mais idade e paciência para
aprender outra língua, ou para me acostumar com sotaques diferentes, ou para
assistir filmes sem legenda.
Depois, porque seria assumir a derrota. E eu não gosto de perder. Ou, pelo menos, não gosto de admitir que perdi...
Na verdade, por filosofia, sou
separatista: quem quiser sair e fazer o seu próprio país, que o faça. Um país
do tamanho do Brasil, com os políticos e governos que temos, não pode
funcionar, como efetivamente, não funciona.
Não pretendo iniciar nenhuma
revolução.
Aliás, espero que não ocorra
nenhuma.
Mas tá difícil viver (sobreviver?)
por aqui.
Vejo o museu em chamas e penso que
jogamos nosso passado fora.
Ninguém tem o mínimo interesse em
preservar a história.
Em verdade, nos últimos anos, ficou
clara a intenção de se APAGAR a história...
Vou ficando por aqui.
Mas, MCeQIL, medite um pouco e faça o
seu próprio roteiro de filme: o que acontecerá com este nosso paíseco?
ATENÇÃO:
nenhum brasileiro foi maltratado para elaboração deste post.
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