quarta-feira, 17 de outubro de 2012

UM PEDIDO DE DESCULPAS PARA O MEU FILHO.


(Hesitei muito pra escrever este post.
Mas o “medo” dos cultuadores do “politicamente correto” é menor que o meu descontentamento.
Que se dane!
Vamos lá!)

Este país é esquisito...
Volta e meia é chamado de “o país das leis”.
Temos lei pra tudo e pra mais alguma coisa.

E tem uma “leizinha” que é lembrada ou esquecida, conforme a conveniência dos dirigentes de plantão.
É uma tal de “Constituição Federal”.
Já ouviu falar nisso?

Pois, essa “leizinha”, diz em um “artiguinho”:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

...

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;” (os grifos são meus)


Esse “leizinha” diz mais um monte de coisas.
Vamos ficar só por aqui.

Decidiu-se que, a partir de agora, serão “reservadas” 50% das vagas, em faculdades públicas para os “afrodescendentes” e/ou outras “minorias”.

Segundo o que andei lendo por aí, parece que o motivo dessa lei, que trata desigualmente os iguais, seria uma “dívida social” que nós, “eurodescendentes”, teríamos para com os “afrodescendentes”.

Algum dia, perdido na história, algum português, ou inglês, ou espanhol, ou francês, ou holandês, achou que era uma boa idéia ter, no Brasil, escravos.
Foram até a África, de onde trouxeram africanos (estes não eram, ainda “afrodescendentes”, já que eram nascidos lá) para trabalhar.
Estes africanos, pelo que andei lendo, já eram escravos na África, muitas vezes escravizados por seus próprios “reis”, que os vendiam.

E instalou-se a escravidão por aqui.

Depois, após muita luta, uma princesa “eurodescendente”, aboliu a escravatura.
Os agora já “afrodescendentes”, foram então libertados.

O certo é que, hoje, EU, “eurodescendente”, tenho uma “dívida social” para com os “afrodescendentes”. Ainda que EU nunca tenha tido um escravo.

Meu avô paterno (que é mais ou menos até onde conheço a história da minha família), que eu não conheci, morou em uma fazenda, no Vale do Paraíba, situada entre Taubaté e São Luiz do Paraitinga, onde tocava um “engenho” de fazer pinga (“pinga” é politicamente incorreto? Tenho que dizer “cachaça”?).
Depois, foi “interventor” (prefeito) na progressista Redenção da Serra que, segundo contam, teria sido a primeira cidade de São Paulo a libertar seus escravos, ainda antes da Lei Áurea.
(A piada que corre é que ninguém sabe se existia algum escravo em Redenção...)

Meu pai, conta histórias de sua infância e juventude que, no “folclore familiar”, são motivos de risada: dizemos que ele está sempre “chorando miséria”.
Mas, com certeza, teve ele uma infância bem mais dura que a que eu tive.
E se fez faculdade, foi porque conseguiu, uma bolsa na PUC-SP.
(As historias dele, dessa época, em que morava em uma pensão, tomava bonde com garoa gelada na cara e só tinha dinheiro para o almoço ou para o jantar, também são bem divertidas.)

Sei pouco da história da família do lado materno.
Sei que minha avó, a grande Vó Cotinha, tinha somente o primário.
E meu Vô Quincas (que eu também não conheci), apesar de ser “dentista” (sei lá se era “formado” em odontologia...) trabalhava como “fiscal de feira” na Capital.
Era ele, também, do interior.

Minha mãe, não fez curso superior.
Esperta toda vida.
Quando solteira, morava no bairro do Cangaíba, o que, obviamente, é motivo de muitas “piadas familiares” a respeito...

E eu?
Bom, estudei em escola pública estadual, aqui em Guarulhos mesmo.
Trabalhei desde os 15 anos de idade.
Fiz cursinho, prestei vestibular e consegui entrar na faculdade.
PUC e USP.
Obviamente escolhi a USP, que não era paga.
(E MELHOR QUE A PUC – CHOREM FILHOS DA PUC!!!)

Mas o meu filhote, hoje com seus 12 anos, estuda em escola particular.
Pertence a uma “classe média alta”.
Esta cercado de cultura.
Tem acesso a computadores & internet, tv a cabo, livros, cinema, viagens e comida em abundância.
E, apesar do cabelo encaracolado (por falta de pente...), é branco. Deveria eu dizer “eurodescendente”.

E por causa disso tudo, porque TALVEZ, algum dia, um antepassado dele possa ter tido escravos, ele terá que ser duas vezes melhor que os outros (afinal só lhe serão disponibilizadas 50% das vagas...), para conseguir uma vaga em uma faculdade pública.

Mas e a história de que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado”?

Bom...

Aos “politicamente corretos”: não sou racista. Sou contra toda e qualquer tipo de discriminação.

Mas sou totalmente a favor do reconhecimento do MÉRITO de cada um.

(Tá em um “livrinho”, uma tal de Bíblia, algo como “dê a cada um o que é seu”.
E mesmo que você não seja religioso, lembre se que o conceito de “dar a cada um o que é seu” é um conceito de convivência humana!
Não faça aos outros, o que não quiser que façam a você”.)

Sou totalmente a favor de se dar condições, com a melhoria de todo o ensino público, para que todos (“afrodescendentes”, “eurodescendentes”, “sinodescendentes”, “nipodescendentes”, “gringodescendentes”, “cucarachodescendentes”, “paraguaiodescendentes”...) possam competir, em igualdade de condições, por todas as vagas das faculdades públicas.
E que os melhores, independentemente de sua ascendência, tenham a sua vaga.

Será que os “cérebros” não estão vendo que a “reserva” de vaga vai incentivar a discriminação?
Todo “afrodescendente” que tiver cursado uma faculdade pública, levará, automaticamente, um rótulo: “Esse? Entrou pela cota...”.
Ainda que assim não tenha sido.

Criou-se a discriminação onde ela não existia.

E, citando a tal da “Constituição”, no mesmo art. 5º:

XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei


Então, tá.

Desculpa aí, filhote.
Devo ter minha parte da culpa por isso.
Sei lá porque...

Um comentário:

  1. Concordo plenamente!
    Na real, além de incentivar a discriminação, essa "segregação" também é um atestado de incompetencia por parte do governo para com a educação como um todo.
    Será que só quem tem condições de pagar uma escola particular tem inteligência suficinete para passar no vestibular?
    Esse sistema de cotas nada mais é do que tapar o sol com a peneira!

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