quinta-feira, 1 de setembro de 2011

DA SÉRIE "NÃO TENHO CERTEZA SE GOSTARIA DE TER ESCRITO ISSO"...


Se você, meu caro e quase inexistente leitor, lê estas mal traçadas linhas com alguma assiduidade (será que alguém faz isso?), já deve ter percebido que a fotografia é uma das minhas inúmeras paixões, junto com a musica, cinema, carros, livros, etc, etc, etc.

Ao ler o texto abaixo (rápida explicação: um homem emprestou, na década de 1970, os negativos do incêndio do edifício Joelma em São Paulo, devolvendo-as à “Folha de São Paulo” só agora. Resolveram, então, ouvir o fotógrafo que fez as tais fotos) fiquei pensando: como “fotógrafo” que sou, será que gostaria de registrar um incêndio?
Fotografar a morte do meu semelhante?
Em meio a dor de um incêndio?
Acho que não.
Ainda que seja o "sonho" de todo e qualquer fotógrafo, ser o primeiro ou o único a fotografar alguma tragédia...

Lembrei que há alguns anos, fotografei, do conforto do meu apartamento, um pequeníssimo incêndio em um prédio em frente ao meu.
Era uma pilha de madeira ou coisa do gênero.
Modéstia às favas, consegui uma ou outra boa foto. Pelo menos EU achei boa, como essa aí em cima...
Mas não morreu ninguém, o prédio não chegou a ficar em perigo.
Foi um incêndio “família”.

Enfim, sei lá.
Fica a duvida, que sempre assola todos os fotógrafos do mundo, sejam eles profissionais ou amadores: devemos registrar o sofrimento do outro?


Da “Folha de São Paulo” de hoje.

Naquele dia tenebroso eu senti, de fato, a dor de uma catástrofe
EDGARD ALVES
DE SÃO PAULO

Foi um dia tenebroso e, quando aquelas imagens retornam à minha cabeça, fico arrepiado.
Alertado por colegas que tinham ouvido pelo rádio o início do incêndio, saí direto de casa para o local.

Quando cheguei, o prédio em chamas, gritos, muitos gritos. Lembro de uma voz desesperada: "Estão pulando".
Caos, sirenes da polícia, bombeiros e ambulâncias, mais barulho de helicópteros.
Consegui um telefone público e avisei a Redação que já estava na cobertura.
Repórteres sempre tinham fichas de telefone no bolso.
Após também ter acompanhado a catástrofe do Andraus, dois anos antes, naquele dia fiquei convencido de que, se havia heróis no mundo, eles eram bombeiros.
Os caras entravam naquele inferno para tentar alguma coisa, muitos voltavam carregados, desmaiados.
Um PM voltou cambaleando. Tirou a toalha que cobria o rosto, imediatamente o
reconheci: Luís Faustino Pires, campeão sul-americano dos pesos-pesados, que tinha no cartel um combate contra George Foreman, uma derrota, mas nos bons tempos de Foreman.
Com uma colega do Grupo Folha, consegui convencer um funcionário do prédio ao lado, entramos e subimos até o último andar. 
Aí eu senti, de fato, a dor de uma catástrofe: corpos carbonizados sobre o parapeito de uma ala do Joelma e, no outro telhado, não alcançado diretamente pelo fogo, corpos de vítimas de asfixia, aproximadamente 30. 
Minha colega entrou em parafuso, discursou contra políticos, autoridades, militares. Os bombeiros a levaram ao andar abaixo, para que se recuperasse.
Pouco depois, quebravam telhas para retirar dezenas de cidadãos que tentaram escapar por lá, sem êxito.
Hoje me pedem para escrever sobre aquele dia triste. Resisto, mas não recuso. Afinal, apesar dos novos tempos, sou um jornalista que sempre teve ficha de telefone no bolso.

5 comentários:

  1. Ei, cadê EU nas suas inúmeras paixões???rsrs
    bj
    Su

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  2. Você está acima das minhas paixões mundanas... heheheh!!!

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  3. Ai que lindo, Mauro!!!
    5 estrelinhas!!!rsrsrs
    bj

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  4. Foi bom você ter postado este texto.Eu tenho assinatura digital da Folha mas não é possível copiar/colar. Como eu queria levar este texto para minha aula de redação,fui procurar na internet quem já o tinha postado e encontrei você!
    Obrigada, Francirene

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  5. Francirene

    Às ordens!
    E, se quiser e puder, faça uma "propagandazinha" do blog e do meu site www.jogos.antigos.nom.br!!!

    Obrigado e um abraço

    Mauro Celso

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