terça-feira, 7 de dezembro de 2010

DOR DE COTOVELO


PARTICIPEI DE UM CONCURSO LITERÁRIO.
E MINHA CRÔNICA NÃO FOI UMA DAS ESCOLHIDAS.

ASSIM, COM UMA TREMENDA DOR DE COTOVELO,
SUBMETO TAL PEÇA LITERÁRIA A SUA APRECIAÇÃO,
CARO E QUASE INEXISTENTE LEITOR...

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DE PRIMATAS E EQUINOS



Que atire o primeiro sagui, quem nunca pagou um mico!

Seja um miquinho, um mico ou um micão: sem exceção, todos já passamos por isso. Talvez em razão da origem comum entre humanos e macacos, como descobriu Darwin.
É inevitável.

O certo é que a expressão é uma imagem forte e ótima: subitamente, sem esperar, você paga, alegremente, para FICAR com o tal do símio.
E o que fazer com ele?
Um bichinho incômodo, feio, sujo, cheio de pulgas e piolhos e provavelmente fedido...
E todo mundo olhando para você, que está com o bicho no ombro e tentando subir para a sua cabeça.

“Pagar mico” é, acredito, uma forma jovial de descrever uma humilhação.
E o tal do mico pode ser só um pequeno “leão-dourado” ou um “King Kong size”.
O que define o tamanho do primata E o tamanho da humilhação é o número de pessoas que tem contato com o bichinho, enquanto você o segura pelas patinhas ou pelo rabo. Se é que mico tem rabo.

Assisti, recentemente, a um “mico” de proporções bíblicas.
O cenário foi a minha bela Campos do Jordão.
Imaginem a cena: inverno, um dia de sol maravilhoso. Alta temporada. A cidade absolutamente lotada de turistas, com seus casacos, gorros, botas, celulares e câmeras fotográficas.

As ruas principais estão quase fechadas para o trafego de veículos, em razão das pessoas que andam por ali, fora da calçada, já que a calçada está lotada por outras pessoas.
Os muitos carros trafegavam lentamente, abrindo caminho entre o povo, que anda alegremente e sem pressa.

Lá pelas tantas, vejo um movimento maior que o esperado.
A rua está tomada de pessoas, que andam pela via como se estivessem em um calçadão. Mas não é um calçadão.
Deveriam existir carros andando por ali.

Vou chegando perto, sem pressa, movido por uma leve curiosidade blasé, como deveria ser toda curiosidade.
E, na via publica, no meio da rua, uma super nova, linda, reluzente, conversível, gloriosa e vermelha Ferrari.

Parada.

Os únicos dois lugares do esportivo estão ocupados por um venerável senhor, de cabelos brancos, que ocupa o lugar do motorista, e uma adorável senhorita, de longos cabelos negros, enormes óculos escuros, calça negra colada nas esculturais coxas e o belo, desnecessário e ecologicamente incorreto casaco de pele natural, aberto.
Certamente, é a secretária do proprietário/motorista do veiculo esporte, muito pouco adequado para congestionamentos.

E o bólido, no momento imóvel, tinha todas suas luzes piscando, a buzina tocando e uma voz metálica que gania incessantemente: “este carro está sendo roubado...”.
Não me pareceu que estivesse.
O senhor e a sua (dele) secretária não tinham cara de transgressores da lei penal.

Contrastando com os sons histéricos que vinham do veiculo, tínhamos o quase total silencio da multidão.
Sabe quando você entra na igreja e, mesmo quando ela esta vazia, você fala baixinho, aos sussurros?
Era isso.

TODOS OS TURISTAS PARARAM PARA OLHAR A “MACCHINA” ITALIANA.

De maneira quase reverente.
Mas, reverentemente, ninguém sequer SE APROXIMOU do esportivo.
Formou-se um círculo ao redor do veículo, todos olhando, quietos e atentos.
O motorista tentava, loucamente, fazer a máquina do “cavallino rampante”, ficar quieta.
Acionava a chave do “bichinho”, repetidas vezes, a fim de fazer o lindo motorzão V12, escondido atrás de uma cúpula de fibra transparente, voltar a vida.

E ... nada.

A tal da secretária parecia cada vez mais incomodada.
Mas, certamente esquecida de suas obrigações trabalhistas, não se dispôs a sair do veiculo e empurrá-lo. Acho que dava até uma “justa causa”.

E o motorista, suava.

Abundante e pegajosamente, sob o sol de inverno da Serra da Mantiqueira.

Aos poucos, o encanto foi sendo quebrado.
A multidão, da incredulidade, passou ao cruel deboche.
Um rapaz, agarrado na namorada, certamente dono de um Volkswagen Fox, filosofou:
“- Deus dá mexerica pra quem não tem unha...

Outro, mais velho, arrastando pelas mãos duas adolescentes, destilou:
“- Meu Hondinha não fica parado no meio da rua...

Uma senhorinha, demonstrando todo seu desconhecimento automobilístico, perguntou:
“- Esse carrinho pode andar na rua?

E aí, caros e quase inexistentes leitores, começou a suprema humilhação para o triste e provavelmente riquíssimo motorista: às dúzias, começaram a aparecer maquinas fotográficas, que passaram a documentar a condição de imobilidade da máquina produzida nos assépticos galpões de Maranello!

Eram máquinas pequenas, grandes, simples, profissionais, com e sem flash, nas mãos de homens, mulheres, jovens, crianças, todas fotografando a patética expressão de desamparo de um homem e sua secretária, no interior de uma Ferrari que não andava...

Continuei andando, sem tirar fotos e sem aumentar o “mico” do ferrarista.

Já ao longe, ouvi o possante motor ser ligado, acompanhado de uma ovação e vaia dignas de um clássico do esporte bretão.

E só pensei: quando for rico, vou comprar um Porsche.

6 comentários:

  1. Mas é lógico que você não ganhou. Apesar do texto divertido, bem contado, gostoso de se ler fica claro o resultado, o qual não sei quem foi o vencedor. É evidente a razão do expurgo.
    O preconceito com o coitadinho do motorista e sua leal acompanhante. Onde já se viu, imaginar uma tal relação patrão funcionária em uma clara tentativa de desfrute creio eu de merecidas férias após anos de laboriosa labuta. O olhar invejoso dos pobres de espírito não poderia ser premiado em uma disputa imparcial calcada em critérios divinos e maravilhosos.
    Mas não desista, pois lá no fundo, bem no fundo existe um grande contador.... de histórias.
    bçs
    Pup's

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  2. Puebla

    Graças a minha legião de fãs (contando com você, tenho 3!) é que não paro de escrever!!!

    hehehe!!!

    ´Braços

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  3. Gostei. Tu fostes injustiçado. Vai ver o pessoal da banca já pagou mico parecido. Quem tem Ferrari e usa Car System merece sofrer.

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  4. Gostei muito do texto. Bem escrito e divertido. Se outra pessoa ganho, vc foi injusticado ou o outro texto e' excelente mesmo.

    De qq forma, parabéns.

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  5. Pois é...
    Não sei se fui "injustiçado". Não li, ainda, os textos vencedores e, de qualquer forma, sou "suspeito".
    Mas estou adorando os elogios!!!
    hehehehe!!!

    E, por favor: IDENTIFIQUEM-SE!!!!

    Abraços e obrigado pela força!!!

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